Concelho - Fauna

Segundo o padre Luís Cardoso (1747) (in DAVEAU,1988) a Serra da Lousã:


“cria porcos montezes, e lobos em quantidade, de que recebem naõ pouco damno nos seus gados os póvos visinhos: se bem que de algum modo se compensa com a muita caça miuda, rasteira, e do ar, de que se aproveitaõ, e offerece a todos livremente”.


Em 1758 o Prior Boaventura de Aguiar e Carvalho (in CHORÃO, 1988) referia que na Serra da Lousã... “se crião gados e caça, e também lobos”.
Hoje, se os Javalis (“porcos montanhezes”) continuam apercorrer os lugares mais recônditos da Serra, já os lobos só pertencem à memória ou ao imaginário.
Entre superstições associadas aos anfíbios e répteis – culturalmente transmitidas, cientificamente desmentidas – e os recentes esforços de reintrodução de mamíferos de grande porte, esta é uma abordagem sobre os vertebrados da Serra da Lousã.


Anfíbios

Os anfíbios constituem a classe mais primitiva dos Vertebrados Terrestres. Os seus ancestrais deixaram a vida aquática há cerca de 350 milhões de anos.
Durante séculos foram objecto de repulsa, superstição e histórias de feitiçaria, que seriam apenas factos pictorescos, não fora a perseguição que sofreram. Por exemplo, o Sapo-comum era importante ingrediente de beberagens utilizadas não só como veneno, mas também como afrodisíaco (!).
Na Primavera regressam à água, sem a qual, salvo excepções, não se podem reproduzir. Durante a fase da postura a maioria dos Anfíbios regressa ao meio aquático, depositando de algumas centenas a mais de 12000 ovos. Em seguida passam pelo estado larvar ( girinos ) e sofrem a metamorfose que lhes permite a existência terrestre durante a vida adulta. Daqui resulta o nome anfíbio, amfi significando duplo e bio significado de vida, dupla vida: metade aquática, metade terrestre.
No Verão, rãs e sapos abandonam a vida aquática. Mas, como são animais de pele húmida muito sujeitos á dessecação, fazem-no preferencialmente durante as chuvadas estivais. Por vezes acontece que, após uma chuvada, se assiste a um êxodo maciço de batráquios invadindo os campos próximos das águas onde nasceram. Este fenómeno natural deu origem à crença popular da “chuva de rãs” e adensou a aura sobrenatural destes animais.
Na Serra da Lousã é improvável que se assista a fenómenos semelhantes, pois os habitats favoráveis aos anfíbios, embora abundantes, são de pequenas dimensões e dispersos. Como tal, nãao existem populações muito numerosas.
Os Anfíbios podem encontrar-se onde quer que haja água doce mais ou menos estagnada. Evitam cursos de água de grande corrente. Fora dos períodos de reprodução permanecem mais ou menos ligados aos meios húmidos. São mais activos durante a manhã e ao cair da tarde. Têm frequentemente vida nocturna. Expõem-se mais em tempo chuvoso. Encontram-se nos recantos sombrios, sob a vegetação, sob as pedras, no solo húmido dos bosques, em grutas, tanques ou pequenos depósitos de água. São mais facilmente observáveis na Primavera, época de reprodução da maioria das espécies. O canto é um auxiliar precioso na sua identificação ou localização.
A sua actividade está intimamente ligada às condições climáticas, dependendo da existência de adequada temperatura ambiente. Nas épocas frias necessitam de hibernar em local seguro e livre de gelo, como um buraco no solo ou uma fenda nas rochas. Nas regiões do Sul da Europa, de Inverno ameno, o período de hibernação é mais curto que no Norte gelado. Muitas espécies diminuem significativamente a actividade no pino do Verão. Estes admiráveis animais são forçados a jejuns prolongados nestes períodos, bem como sob condições climáticas adversas ou durante a reprodução. A sua alimentação, variável consoante a espécie, é essencialmente carnívora, à base de vermes do solo, larvas, insectos, aracnídeos, etc.
Todos os Anfíbios estão protegidos por lei em Portugal. No entanto, o grau de desenvolvimento dos países mais evoluídos representa uma séria ameaça à sua preservação, principalmente devido à alteração de habitats , de que são exemplos: a drenagem de zonas húmidas e a mobilização maciça de solos.
Actividades agrícolas usando desmedidamente adubos e pesticidas podem afectá-los directamente, destruindo o seu alimento. O ciclo reprodutor depende duma fase aquática e pode ser comprometido seriamente pela poluição dos cursos de água. A Europa é profusamente atravessada por rodovias onde são esmagados milhares de anfíbios em migração. Também as águas que escorrem das estradas arrastam consigo os óleos lubrificantes, metais pesados e outros produtos em combustão dos veículos automóveis, contaminando os cursos de água próximos.
O Homem é predador directo perseguindo-os por superstição, com intuitos comerciais (animais de estimação, alimentação) ou por outros motivos. Algumas actividades, como o todo-o-terreno através de zonas encharcadas, causam a morte de muitos anfíbios.
 

Lista de anfíbios que ocorrem na Serra da Lousã
 
Nome científico Nome vulgar
Alytes obstetricans Sapo-parteiro
Bufo bufo Sapo-comum
Chioglossa lusitanica Salamandra-lusitânica
Hyla arborea Rela
Pleurodeles waltl Salamandra-de-costelas-salientes
Rana iberica Rã-ibérica
Rana perezi Rã-verde
Salamandra salamandra Salamandra-de-pintas-amarelas
Triturus boscai Tritão-de-ventre-laranja
Triturus marmoratus Tritão-marmorado


Répteis

Os Répteis representam uma das mais importantes etapas da evolução dos seres vivos na Terra, simbolizando a independência do meio aquático e da conquista dos continentes. Este importante passo evolutivo foi precedido da adaptação à vida terrestre, que permitiu não perder a água do corpo o que foi assegurado quando a pele se tornou muito queratinizada, escamosa, sem glândulas: a evaporação é quase nula, tornando-se impermeável, ideal para climas muito quentes, como os desertos. Por outro lado, desenvolveram ovos de casca rígida que armazenam os líquidos vitais ao desenvolvimento do embrião. Não têm necessidade de recorrer a zonas húmidas na época reprodutora, como acontece com os anfíbios. Isso não impede que muitos répteis sejam aquáticos (ex.: tartarugas).
Os répteis são animais ectotérmicos (a sua temperatura corporal e a actividade física dependem da temperatura ambiente). Por este motivo, os répteis hibernam nas épocas frias e só se mostram activos nos períodos mais quentes do dia, expondo-se demoradamente ao sol sobre as rochas. Consomem pouca energia o que lhes permite sobreviver com pouco alimento. Estas adaptações permitem a vida em ambientes muito adversos (ex: Aves e Mamíferos) permite a actividade num amplo leque de condições ambientais, mas também exige a produção contínua de grandes quantidades de calor à custa da ingestão de grandes quantidades de alimento.
O facto de alguns répteis serem venenosos tem alimentado, ao longo dos séculos, uma relação conflituosa com o Homem. É importante saber que na nossa área geográfica poucas são as cobras venenosas, existindo em Portugal apenas duas víboras. A Cobra-bastarda é uma espécie que, tendo veneno, tem os dentes inoculadores situados muito no interior da boca, apenas inoculando veneno quando abocanha as presas que, por isso, têm de ser pequenas. Portanto, o seu veneno não representa perigo para o Homem.
Na Serra da Lousã existe a Cobra-bastarda e uma única víbora. A mordedura por víboras é um acontecimento de tal modo raro, que não justifica preocupações de maior. É possível que, por vezes, surjam confusões com as inofensivas Cobras-de-água, pois estas, para sua defesa, tem um aspecto e comportamento que imita as víboras.
Os Répteis não devem ser considerados daninhos ou prejudiciais. Os motivos das perseguições que lhes são movidas devem-se à ignorância ou à repugnância que causam a certas pessoas. Está demonstrado que os seus hábitos alimentares incidem especialmente sobre invertebrados (insectos, aranhas, etc.) ou pequenos roedores, sendo essenciais ao equilíbrio dos ecossistemas.

Lista de Répteis que ocorrem na Serra da Lousã
 
Nome científico Nome vulgar
Anguis fragilis Cobra-de-vidro
Chalcides bedriagai Cobra-de-pernas-pentadáctila
Elaphe scalaris Cobra-de-escada
Lacerta lepida Lagarto-comum
Lacerta schreiberi Lagarto-de-água
Malpolon monspessulanus Cobra-rateira
Mauremys caspica Cágado-comum
Natrix maura Cobra-de-água-viperina
Natrix natrix Cobra-de-água-de-colar
Podarcis bocagei Lagartixa
Podarcis hispanica Lagartixa
Psammodromus algirus Sardanisca-do-mato
Psammodromus hispanicus Sardanisca-do-mato-ibérica
Tarentola mauritanica Osga
Vipera latastei Víbora-cornuda


Aves

As Aves são o grupo de vertebrados cujo estudo é mais acessível, bastando uns binóculos e um guia de campo para se desenvolver uma interessante actividade.
A ornitologia é a ciência que estuda as aves. A identificação de aves torna-se acessível se forem considerados os vários aspectos da morfologia da ave que são perceptíveis numa observação que pode não durar mais que uns segundos. A anatomia das aves é extremamente variável quanto ao tamanho, forma e cor (por ex: bico e patas), o que constitui uma ajuda preciosa em muitas situações.
Para além dos critérios morfológicos, há o comportamento próprio de cada espécie. Aprender a reconhecê-lo permite conclusões tão simples como saber que o pequeno pássaro que trepa pelo tronco da árvore acima é a Trepadeira-comum e o que desce pelo tronco abaixo é a Trepadeira-azul. Um ouvido reinado, algo que as gentes rurais se habituaram a desenvolver, permite reconhecer um grande número de espécies. Cuco, Rola, Melro e Rouxinol são apenas alguns exemplos.
Tipo de alimento e forma como cada ave o procura, permitem distinções em grandes grupos de classificação: aves de rapina, diurnas e nocturnas; aves aquáticas, umas marinhas, outras típicas dos sapais, estuários, pauis, lagos e rios; granívoras, alimentando-se de grãos e por isso de bico grosso e forte, e insectívoras, alimentando-se de insectos, de bico fino e ágil.
As necessidades alimentares de cada espécie, as condições para nidificar, os locais de repouso, a segurança são alguns aspectos que mais decisivamente determinam a escolha do habitat .
A fenologia de cada espécie (padrão de ocorrência, em Portugal e em cada região em particular) é um dado importante. Assim uma espécie pode ser considerada residente – presente durante todo o ano – ou pode apenas ocorrer em determinadas épocas. É o caso das aves visitantes de Verão ou de Inverno, ou simplesmente visitantes de passagem. Outras ocorrem apenas ocasionalmente.
A avifauna da Serra da Lousã, não sendo particularmente abundante ou diversificada, é bastante interessante, em virtude da variedade de habitats que a serra possui: ribeiros de montanha, bosques mistos de caducifólias e resinosas, hortas e prados junto às aldeias, matos e altos cumes, garantem a presença de cerca de uma centena de espécies de aves.
Para além de espécies vulgares, ocorrem aqui algumas preciosidades:

  • O Melro-d’água, que surge nos rios de montanha do norte do país, de águas límpidas e corrente forte, e apresenta a particularidade de “nadar” facilmente e de se alimentar debaixo de água, “percorrendo” o leito do ribeiro em busca de alimento; faz frequentemente o ninho atrás da quedas de água;
  • O Dom-fafe, de bela plumagem, é uma ave que em Portugal ocorre nos bosques de folhosas do Alto Minho; na Primavera, surgem na Serra da Lousã em busca dos rebentos tenros das árvores (salgueiros, etc.), após o que regressam às terras mais a norte;
  • A Petinha-dos-campos, uma espécie pouco abundante das zonas montanhosas, ocorre aqui regularmente no período estival.

As rapinas, embora pouco abundantes, estão representadas por espécies como o Açor, o Gavião (associadas aos habitats de floresta) ou a Águia-de-asa-redonda. Os Peneireiros-de-dorso-malhado são frequentes nos altos dos cumes. A Coruja-do-mato, o Mocho-galego e a Coruja-das-torres são as rapinas nocturnas mais frequentes.

Aves que ocorrem na Serra da Lousã
(ordenação nomenclatural de ordens)

 
Nome científico Nome vulgar
ORDEM podicipediformes
Tachybaptus ruficollis Mergulhão-pequeno
ORDEM Ciconiiformes
Ardea cinerea Garça-real
ORDEM Falconiformes
Buteo buteo Águia-de-asa-redonda
Circaetus gallicus Águia-cobreira
Accipiter gentiles Açor
Accipiter nisus Gavião-da-Europa
Milvus migrans Milhafre-preto
Circus pygargus Tartaranhão-caçador
Circus cyaneus Tartaranhão-azulado
Falco tinnunculus Peneireiro-comum
Falco peregrinus Falcão-peregrino
ORDEM Galliforme
Alectoris rufa Perdiz-vermelha
Coturnix coturnix Codorniz
ORDEM Charadriiformes
Scolopax rusticola Galinhola
ORDEM Gruiformes
Gallinula chloropus Galinha-de-água
ORDEM Columbiformes
Columba livia Pombo-doméstico
Columba palumbus Pombo-torcaz
Streptopelia turtur Rola-comum
ORDEM Cuculiformes
Cuculus canorus Cuco
ORDEM Caprimulgiformes
Caprimulgus europaeus Noitibó-da-Europa
ORDEM Strigiformes
Tyto alba Coruja-das-torres
Athene noctua Mocho-galego
Strix aluco Coruja-do-mato
ORDEM Apodiformes
Apus apus Andorinhão-preto
ORDEM Coraciiformes
Alcedo athis Guarda-rios
Upupa epops Poupa
ORDEM Piciformes
Picus viridis Pica-pau-verde
Dendrocopus major Pica-pau-malhado-grande
ORDEM Passeriformes
Galerida sp Cotovia
Alauda arvensis Laverca
Lullula arborea Cotovia-pequena
Riparia riparia Andorinha-das-barreiras
Ptyonoprogne rupestris Andorinha-das-rochas
Hirundo rustica Andorinha-das-chaminés
Delichon urbica Andorinha-dos-beirais
Anthus pratensis Petinha-dos-prados
Anthus campestris Petinha-dos-campos
Motacilla flava Alvéola-amarela
Motacilla cinerea Alvéola-cinzenta
Motacilla alba Alvéola-branca
Oriolus oriolus Papa-figos
Sturnus unicolor Estorninho-preto
Garrulus glandarius Gaio
Pica pica Pega-rabuda
Corvus corax Corvo
Corvus corone Gralha-preta
Cinclus cinclus Melro-de-água
Troglodytes troglodytes Carriça
Prunella collaris Ferreirinha-alpina
Prunella modularis Ferreirinha-comum
Cettia cetti Rouxinol-bravo
Cisticola juncidis Fuinha-dos-juncos
Hippolais polyglotta Felosa-poliglota
Sylvia atricapilla Toutinegra-do-barrete-preto
Sylvia communis Papa-amoras-comum
Sylvia melanocephala Toutinegra-de-cabeça-preta
Sylvia undata Carriça-do-mato
Phylloscopus collybita Felosa-comum
Regulus regulus Estrelinha-de-poupa
Regulus ignicapillus Estrelinha-de-cabeça-listada
Muscicapa striata Papa-moscas-cinzento
Ficedula hypoleuca Papa-moscas-preto
Oenanthe oenanthe Chasco-cinzento
Oenanthe hispanica Chasco-ruivo
Saxicola torquata Cartaxo-comum
Saxicola rubetra Cartaxo-nortenho
Monticola saxatilis Melro-das-rochas
Monticola solitarius Melro-azul
Phoenicurus ochruros Rabirruivo
Erithacus rubecula Pisco-de-peito-ruivo
Luscinia megarhynchos Rouxinol-comum
Turdus merula Melro-preto
Turdus iliacus Tordo-ruivo
Turdus philomelos Tordo-comum
Turdus viscivorus Tordeia
Parus cristatus Chapim-de-poupa
Parus caeruleus Chapim-azul
Parus ater Chapim-preto
Parus major Chapim-real
Aegithalos caudatus   Chapim-rabilongo
Certhius branchydactyla Trepadeira-comum
Sitta europaea Trepadeira-azul
Passer domesticus Pardal-cumum
Passer montanus Pardal-montez
Fringilla coelebs Tentilhão-comum
Pyrrhula phyrrhula Dom-fafe
Serinus serinus Chamariz
Carduelis chloris Verdilhão
Carduelis spinus Lugre
Carduelis carduelis Pintassílgo
Carduelis cannabina Pintarrôxo
Emberiza cia Cia
Emberiza cirlus Escrevedeira-de-garganta-preta
Estrilda astrild Bico-de-lacre

                          

Mamíferos

Os mamíferos são animais de hábitos secretos, predominantemente nocturnos e muito esquivos, embora, neste aspecto, haja algumas diferenças entre eles. Para os observar sem depender de uma situação fortuita, há que utilizar diferentes técnicas consoante a espécie, de preferência durante o crepúsculo antes do nascer do sol ou depois do seu ocaso. É neste período do dia, de menor pressão humana, que a maioria destes animais se encontram mais activos.
De todos os mais esquivos são os carnívoros, como a Doninha, o Gineto e a Raposa, habitualmente solitários e nocturnos. Também os micromamíferos, assim chamados devido às suas pequenas dimensões são difíceis de observar, excepto quando se depara com um ou outro animal morto na berma de um caminho.
Já outras espécies, como o Coelho ou a Lebre, são suficientemente activos e visíveis durante o dia. O Javali , o mamífero de maior porte desta região, poderá ser observado se se escolher um posto de observação e um período do dia adequados. É frequente surpreendê-los nas suas deambulações diárias de muitos quilómetros em busca de alimento, especialmente quando se deslocam das encostas de mato cerrado, onde passam o dia, para os terrenos férteis dos vales.
Mais acessíveis são os Morcegos, mamíferos voadores de hábitos nocturnos, frequentes ao cair da noite. No entanto, existem várias espécies que são difíceis de distinguir em voo.
A presença de mamíferos é frequentemente depreendida pelos rastos e sinais que é possível detectar. Para o conseguir é necessário conhecimentos básicos e, acima de tudo, um olhar atento para pistas discretas que, geralmente, passam despercebidas. As pegadas são um exemplo clássico mas pouco aplicável na Serra da Lousã, dada a natureza do solo ser geralmente pouco propícia à sua formação. No entanto, os escassos locais onde podem surgir – solos húmidos junto a uma ribeira ou num recanto da encosta – devem ser minuciosamente inspeccionados. Prestar atenção ao número e comprimento relativo dos dedos, disposição das almofadas e unhas, posição relativa das impressões das patas anteriores e posteriores e, por fim, o aspecto geral do rasto.
Os roedores, na sua maioria deixam pegadas com quatro dedos na pata anterior, que é curta e se cinco na posterior, mais alongada. Todos os dedos têm unhas. Por vezes, nota-se o rasto da cauda.
Coelho e Lebre deixam pegadas com poucos detalhes, pois as patas são peludas. No entanto, o padrão do rasto é muito característico com duas impressões pequenas e paralelas das patas anteriores seguidas de duas impressões longas e paralelas das patas posteriores, quando evoluem em marcha lenta. Mas quando correm, as pegadas das patas posteriores “ultrapassam” as pegadas das anteriores e são as primeiras a inscrever-se no solo. Na corrida, ao contrário da marcha, as pegadas deixam de ser paralelas.
O Javali deixa habitualmente as marcas do par de cascos centrais, embora em solos muito macios, possam marcar ainda os dedos curtos situados em posição latero-posterior.
Os carnívoros têm patas anteriores e posteriores semelhantes, com quatro ou cinco dedos conforme a espécie, com almofadas e garras proeminentes. A Doninha tem cinco dedos e inscreve as pegadas das patas posteriores quase sobrepostas às das anteriores. A Raposa tal como os cães tem apenas quatro dedos, dos quais o par central é maior que o par de dedos laterais. Em geral, a pegada do cão é mais larga que a da Raposa. Ter sempre presente a possibilidade de existirem pegadas de animais domésticos – cabras ou cães – que podem provocar erros de análise.
Outra fonte preciosa de informação são os excrementos. Os dos herbívoros ocorrem habitualmente em grupo, com uma forma constante em cada espécie. Os dos mamíferos predadores são alongados, irregulares, com pelos, penas, ossos ou o exoesqueleto de insectos. No Outono encontram-se cascas e caroços de frutos silvestres. Na identificação é mais seguro o conteúdo e o tamanho do que a forma. Por exemplo, a Lontra, deposita excrementos (com espinhas, escamas e com o característico cheiro a peixe), em locais proeminentes como rochas junto a um curso de água.
As tocas são também muito úteis, pois algumas são muito características como as do Texugo.
Outro sinal clássico são os montículos de terra que a Toupeira faz, que mais não são que as galerias subterrâneas onde vive.
Crânios e dentes de mamíferos são particularmente úteis na sua identificação pois são estruturas complexas que caracterizam distintamente cada espécie. Podem ser encontrados em campo aberto, próximo de tocas de carnívoros ou em plumadas. As regurgitações das aves de rapina nocturnas (corujas, mochos e bufos) são aquelas em que os crânios dos pequenos roedores ou insectívoros – Musaranhos, Toupeiras – se encontram melhor conservados. Com base no seu estudo minucioso, pode-se inferir acerca da população de pequenos mamíferos de uma dada região.
Uma referência final para o Corço e para o Veado recentemente reintroduzidos na Serra da Lousã por iniciativa do Instituto Florestal.

Mamíferos que ocorrem na Serra da Lousã
 
Nome científico  Nome vulgar
ORDEM Insectívora
Erinaceus europaeus Ouriço
Talpa occidentalis Toupeira
ORDEM Lagomorpha
Oryctolagus cuniculus Coelho
Lepus granatensis Lebre
ORDEM Carnívora
Vulpes vulpes Raposa
Mustela nivalis Doninha
Mustela putoris Toirão
Martes foina Fuínha
Meles meles Texugo
Lutra lutra Lontra
Genetta genetta Geneta
Felis silvestris Gato-bravo
ORDEM Artiodactyla
Sus scrofa Javali
Cervus elaphus Veado
Capreolus capreolus Corço